Domingo, 1 de Janeiro de 2012

1. Nevoeiro

Desculpem perdi-me no tempo, quando vi as horas até fiquei assustada.

Espero que gostem, depois vou dizendo mais sobre personagens e assim...

 

Aviso: Primeiros capitulos bastante dramáticos e pode existir possiveis aborrecimentos, por favor, continuem em ler porque mais para a frente até que nem é mau de todo. (acho)

 

 

1. Nevoeiro

 

 

 

 

 

 


1.1 Margaret

        O dia estava a custar a passar visto que nem de manhã tinha estado com Ryan. Depois de uma segunda-feira de aulas até às seis horas da tarde, Laila arrastou-me até à aula suplementar de química onde tive que estar até agora. O meu cérebro já queria sair para férias. Olhei para o relógio impaciente por um autocarro para onde pudesse ir ter com o meu namorado e vi que já eram nove horas, a minha barriga estava a dar horas há algum tempo e a única coisa que queria fazer era adormecer no colo de Ryan como já tinha feito algumas vezes.
                Despertei dos meus pensamentos e da música que estava embrulhada entre os mesmos ao ver, finalmente, o autocarro. Fui a primeira a entrar e a sair dando encontrões a várias pessoas, e pedindo desculpas repetidamente. A verdade era que nem me importava, era apenas uma questão de boa educação para que as pessoas não pensassem mal de mim. Depois de passar pelo centro da cidade, entrei na rua mais deserta que havia, não por ser mais rápido mas porque era mesmo ali que Ryan vivia, numa rua deserta em que apenas existia uma casa, a dele. Uma casa que por acaso era muito cheia de gente simpática onde eu adorava passar tempo, já que a minha era grande e vazia, onde apenas eu e a minha avó vivíamos.
                Eu e Ryan tínhamo-nos conhecido nas aulas de biologia, em que ele se teve que sentar contrariado ao pé de mim, por causa do seu mau comportamento com Richard, o seu melhor amigo. Sempre o tinha detestado, achava-o mimado e convencido, mas quando ele se sentou, me olhou e sorriu para mim com uma sinceridade que não conhecia nele, eu apenas senti o meu coração a bater tão rápido que pensei estar a ter algum ataque. Começámos a falar e a conhecer-nos até que me apercebi que gostava dele, é claro que, não gostava incondicionalmente dele. Não estava apaixonada, nem dramatizava o meu amor por ele, mas o que sentia era algo sereno, pacifico e eu gostava. Aliás, gostávamos os dois, caso contrário não estaríamos juntos e felizes.
Ouvi uma música conhecida e uma vibração no meu bolso. Peguei no meu telemóvel, atrapalhadamente, por causa da carga que tinha às costas e nos braços e atendi ouvindo a voz grossa, mas amorosa de Ryan.
                -Então? Vens ter comigo hoje? – perguntou-me mal atendi não me dando tempo de lhe dizer olá. A voz dele estava estranha e isso deixa-me preocupada.
                -O que tens? – Perguntei.
                -Olha para cima – pediu e eu fiz o que ele pediu vendo o seu sem estrelas. Mordi o lábio, onde estávamos era quase impossível não ver estrelas, não havia luz e o céu estava praticamente limpo. – O tempo está meio esquisito e a minha irmã não pára de chorar. – suspirou cansado.
                -Eu já estou quase a chegar. – Anunciei-lhe vendo a sua casa ao longe um pouco dentro da vegetação, parecia uma casa da árvore gigante.
                -Ah, já te estou a ver.  – Disse-me e eu franzi os olhos vendo uma figura muito escura a movimentar-se enquanto um nevoeiro se instalava atrás dele.
                -O que tem a tua irmã? Os teus pais voltaram a discutir? – Consegui vê-lo a abanar a cabeça enquanto colocava a mão à frente da boca. Pelo auscultador ouvi a tosse seca dele como se fumasse à anos.
                -Não, ela está a chorar sem razão – voltou a tossicar e o nevoeiro que apenas o tinha envolvido a ele à minutos atrás veio na minha direcção fazendo o mesmo a mim. Olhei em volta confusa com aquilo, era um nevoeiro estranho, apesar de ser de noite ele era demasiado negro. – Estás a ver? – Perguntou com uma voz demasiado rouca para perceber o que sentia. Não tive tempo de lhe responder porque a única coisa que conseguia ouvir era um ruído ao telemóvel por causa de uma vaga de tosse que lhe apareceu. Olhei para trás, a única coisa que conseguia ver era cinzento, branco e preto, não conseguia perceber se o nevoeiro estava a engolir também a cidade ou se era só a nós.  – Margaret vai-te embora – disse Ryan depois de conseguir respirar.
                -Estás bem? - perguntei ignorando-o e continuando a andar para ver se o encontrava.
                -Não andes mais - pediu-me. Conseguia ouvir algo a cair no chão, nada parecida a chuva, algo mais forte, duro e que podia magoar. A imagem de uma pedra aguaçada apareceu-me mesmo à frente fazendo-me dar um pequeno grito. Respirei fundo tentando voltar ao normal e ouvi um gemido doloroso de Ryan.
                -Ryan? – Gritei tanto para o telemóvel como para a rua. Obtive a resposta de um grito doloroso que escapou da boca dele.
Como conhecia aquela rua como as palmas da minha mão corri na direcção em que sentia que ele podia estar. A cada passo que dava conseguia perceber que a chuva de piroclastos, ou até meteoritos, o que quer que fosse, estava mais forte e com mais velocidade. Era como se aquelas rochas aguçadas estivessem a ser projectada apenas na minha direcção e só na minha, mas sabia que Ryan também estava em apuros. Assim que cheguei a uma zona que as rochas caiam continuamente deixei as minhas coisas da escola caírem no chão fazendo com que algumas me rasgassem tanto a roupa como a carne. Tive que parar pelo menos dois minutos e sentar-me no chão para poder proteger a cabeça de possíveis embates, felizmente ao fim de esses dois minutos a “chuva” parou e não existia nada sólido, apenas um gás forte que nunca tinha sentindo ou ouvido falar, era quase um ácido que fazia o nosso corpo arder. Levantei-me enquanto abri os olhos tentando ver alguma coisa, mas apenas conseguia ver sombras e os meus olhos ardiam, ao olhar para a minha roupa apercebi-me que metade da minha manga do casaco estava queimada, não em chamas, mas sim queimada. A minha garganta estava tão inflamada que tinha que fazer força para conseguir respirar. Olhei para a minha mão, o meu telemóvel estava em pedaços enquanto as minhas mãos sangravam.
                -Ryan! – Gritei com a voz rouca e quase a desaparecer, não sabia se era suficiente para ele ouvir, mas esperava que fosse, não queria que ele estivesse pior que eu.
                -Mar – quase que não ouvi, mas sempre tive uma bua audição e um bom sentido de orientação. Olhei para todos os lados com lágrimas a verterem dos meus olhos, não por queria ou porque tinha medo, mas por causa do ácido que me penetrava. Apenas consegui ver Ryan quando tropecei nele. Estava no chão repleto de sangue, com uma ferida aberta e feia de baixo do olho e a tremer. Tinha tanta roupa como. Conseguia vê-las a desaparecer por causa do ácido. 
                Murmurei o nome dele ajoelhando-me ao lado dele e tentei colocar um dos seus braços à volta do meu pescoço, mas acabei por cair sentindo o meu pescoço e costas a arder. Consegui, até, sentir o sangue escorrer-me cintura a baixo. Agora sim, chorava com medo de me perder a mim e a ele.
                -Sai daqui, tenta fugir – apenas um fiozinho da sua voz restava, a sua garganta estava muito inflamada, ainda conseguia estar pior que a minha, conseguindo perceber isso a olho nu.
                -Consegues andar pelo menos? – Perguntei a soluçar, nem eu tinha forças para a andar, mas queria ter esperança.
                -Não Mar, vai – pediu-me ele agarrando-me na roupa que restava e puxando-me para ele – fica com isto – agarrou-me na mão e deu-me um anel que eu neste momento só conseguia sentir.
                -Não sejas estúpido Ryan – Gritei-lhe irritada – achas mesmo que eu te vou deixar sozinho? E achas mesmo que vais morrer por causa desta treta? – Perguntei-lhe possessa. Mais uma vez, tentei agarrar nele, mas nem eu nem ele tínhamos forças para nos aguentarmos em pé. Depois da décima tentativa caí no chão de joelhos, derrotada e a chorar compulsivamente. A minha roupa continuava a desaparecer e a de Ryan também, apenas não percebia como é que não nos queimava também a pele, apenas ardia mas não causava efeito nenhum.
Ouvi um barulho arrastado e doente, como se alguém tivesse uma asma horrível e não existisse uma bomba por perto. Olhei para baixo, para Ryan e apercebi-me que era ele. Estava a tentar respirar mas não conseguia e fazia força com as mãos para não gritar. Mas quando não aguentou mais fê-lo e gritou como nem nos filmes tinha visto. Um grito que me arrepiou toda e me paralisou.
                -Ryan. – murmurei agarrando na mão dele, ainda conseguia sentir o anel que ele me tinha dado entre as nossas mãos, mas nem olhado para ele tinha.
                -Eu não aguento mais – gritou ele como se tivesse melhorado da voz, mas nada da parte da respiração – arde em todo o sítio – disse apertando-me a mão com tanta força que me fez dar um guincho. – Desta vez não tens razão.
                -Cala-te – pedi não gostando do que estava a ouvir.
Olhei para o céu e vi que o nevoeiro estava a desaparecer, já conseguia ver as estrelas mais brilhantes e a lua. Olhei para Ryan com melhor visibilidade e beijei-lhe as mãos.
                -O nevoeiro passou – disse-lhe enquanto limpava as lágrimas. - Vai tudo correr bem – garanti, mas ele negou com a cabeça a arquejar e a gemer com dores.
                -Eu preciso… - Aproximei-me dele para o ouvir melhor – que me ajudes.  – Assenti levantando-me mas ele apertou-me mais as mãos – pega num… – engoliu em seco mas não foi preciso que ele acabasse para que eu percebesse o que ele queria. Abanei a cabeça largando-o e afastando-me como um gato abandonado.
 Ele fechou novamente os punhos e arquejou com mais força, tinha os olhos cheios de lágrimas assim como estavam os meus. Apostava que ardia mais a ele do que a mim, mas não percebia porquê. Porque é que também não estava como ele.
                -Margaret – tratou-me pelo nome completo e eu cerrei os dentes, detestava que ele me chamasse assim, só o fazia quando estava chateado ou para me chamar à atenção de algo. – Eu vou morrer de qualquer maneira – conseguia ver o suor a sair do seu corpo e a escorrer, principalmente da sua cara molhando o seu cabelo. Num ápice o nevoeiro voltou e com mais força fazendo-me fechar os olhos com força e aconchegar-me no peito de Ryan não me dando tempo para ralhar com ele. A “chuva” recomeçou fazendo dar um pequeno gemido quando senti uma rocha pontiaguda a perfurar-me o ombro e rasga-lo. Não me mexi durante um bocado enquanto estava encostada a Ryan, mas sabia que o tinha que o tirar dali o mais rápido possível. Respirei fundo tentando ganhar força enquanto sentia tudo a arder e assim que levantei a cabeça para olhar para Ryan paralisei. Estava com os olhos abertos, vidrados, e no seu peito, no mesmo lugar onde devia estar o seu coração havia uma rocha em forma de estaca cravada nele. Entrei em choque enquanto olhava para ele aproximando-me da sua face e olhando-o.
                -Ry… - não consegui dizer o nome dele porque uma dor no peito saiu de mim e soluços apareceram fazendo-o chorar sem parar. Sentia as minhas costas a latejarem mas neste momento não conseguia reagir. Passei a mão pelo seu pescoço e a seguir pela sua face acabando nos seus olhos para fecha-los.

 

1.2 Damien

O suposto nevoeiro estava novamente mais forte para sul, mas onde estávamos ainda não havia rasto dele. Não conseguia perceber como ele se movia, ele tinha fim e tinha início e parecia aparecer onde quisesse por um tempo indeterminado, quase como se pensasse, mas isso não era possível. Tudo o que eu conseguia ver ou era ruas desabitadas ou eram mortos. Havia mortos de dois tipos, os que se matavam por causa da dor que o nevoeiro causava, ou mortos por causa das rochas gigantes afiadas em forma de agulha, vindas do ar com origem desconhecida. Isto era a coisa mais estranha que os habitantes do planeta jamais tinham visto, para mim não era estranho, era horrível. Só eu e Gui, o meu irmão, sabíamos o que era estar a recolher corpos, alguns deformados, na estrada, no pinhal, em casas desconhecidas e em tantos outros sítios sem ver qualquer vida ou esperança para aqueles sujeitos. Vi um vulto a mover-se e estiquei-me como que se assim conseguisse ver melhor. Olhei para Gui que estava distraído a vestir-se, também devia fazê-lo, se não o fizesse metia-me em alhadas, mas sentia-me na obrigação de salvar a pessoa que ainda estava viva. E se eu me vestisse e entretanto a pessoa morresse? Não, isso não podia acontecer, o mais provável era eu desistir, pois sinceramente já não aguentava mais isto. Comecei a correr na direcção do vulto e ouvi Gui atrás de mim a gritar-me.
                -Damien acaba de te vestir! – Gritou e eu ainda olhei para trás.
                -Não posso. – Disse deixando Gui atrás de mim a olhar-me enquanto eu corria o mais rápido que conseguia. Vestir o fato era difícil e demorava algum tempo, era quase como o de um astronauta, era branco, tinha uma botija com oxigénio e resistente a coisas afiadas, como as rochas que caíam por vezes, como eram pesadas, era difícil andar, correr e ajudar quem quer fosse, praticamente eram feitos para nos proteger do nevoeiro enquanto nós recolhíamos apenas os mortos.
Estava mesmo perto do vulto quando tropecei na minha sapatilha que tinha o mesmo tecido do fato, senti uma dor no pé, agora meio nu porque ela estava a sair, mas nem dei caso, levantei-me assim que pude e olhei para a miúda que estava deitada sobre o peito de um rapaz morto por uma das rochas. Não conseguia perceber se tinha sido ela a mata-lo ou se ele já estava ferido de mais e a rocha apanhou-o em cheio. Respirei fundo com as dores no pé já a aparecerem e aproximei-me da miúda.
                -Hey – murmurei fazendo-a olhar para mim enquanto conseguia ver os seus punhos ensanguentados a formarem uma bola por ela os estar a apertar tanto. Examinei-a só por alguns segundos pois queria tira-la dali o mais rápido possível.
Estava com as costas rasgadas, desde o pescoço até meio destas, devido às rochas, assim como no seu ombro. A cor dos seus olhos e o facto de ela estar nua deviam-se ao ácido que estava envolvido pelo nevoeiro.
Gui chegou ao pé de mim e mandou-me um olhar irritado que eu conseguia ver apesar do escuro e da máscara que trazia.
                -Tens a noção do que fizeste? – Gritou-me. Tinha razão para estar zangado, mas moderar isso por causa da rapariga.
                -Falamos depois. – Pedi-lhe e ele cerrou os dentes.
                -Fogo Damien! – Foi apenas o que disse e olhou para o rapaz morto. Com mais cuidado do que com os outros, visto que a rapariga o seguia com os olhos, agarrou nele e foi embora. – Vou pô-lo com os outros – avisou-me e eu levantei a rapariga ao meu colo.
                -E ela? Para onde a levo? – Perguntei, não tínhamos autorização nenhuma para levar-vos as pessoas vivas, mas se estivéssemos mais algum tempo naquele sitio tinha receio que ela acabasse como os outros.
                -Decides sempre tu as coisas, não é? Então leva-a para onde quiseres, já deve estar para morrer mesmo. – Pronunciou num tom azedo que fez a rapariga arrepiar-se a agarrar com força no colarinho do meu fato. Suspirei agarrando-a com força e levei-a onde o nevoeiro já não chegava e felizmente era lá que estava o nosso carro. Coloquei-a sentada no banco de trás enquanto eu fui para o do condutor, por mais que eu quisesse não conseguia aguentar à tentação de olha-la. Tinha um corpo onde eu só conseguia ver curvas, mas apesar disso era magra, a sua pele era branca e pálida para contrastar com o seu cabelo que era negro assim como os seus olhos que parecia estar a ficar com uma cor escura. Olhava para mim sem perceber que eu a olhava, conseguia sentir que estava meio atordoada e assustada.
                -Vais-me falar não vais? – Perguntei para ver se ela me respondia a alguma coisa, mas ela nada disse. Olhei para as suas mãos cheias de sangue que tremiam e vi os seus olhos ficaram encharcados de lágrimas. Segurei numa das suas mãos e ela agarrou-se ao meu braço quando já não aguentou com as lágrimas apertando-o com força até adormecer pesadamente.


 

Post Scriptum:
publicado por Cate J. às 18:27
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8 comentários:
De Beatrice @ a 1 de Janeiro de 2012 às 18:50
oh meu deus *-* acho que encontrei o meu novo vicío, está perfeito o capítulo mal posso esperar por mais !


De Vera a 1 de Janeiro de 2012 às 19:43
"pode existir possiveis aborrecimentos"
duvido que alguém se aborrece... adorei!
é tudo muito misterioso xD


De Felícia a 1 de Janeiro de 2012 às 20:51
Ai, mulher, adoooro! Tadito do Ryan, e pronto, bem que podias fazer uma descrição dos moços, para uma pessoa saber qual é o melhor partido xD


De Beatrice @ a 1 de Janeiro de 2012 às 20:53
ahah no problemo, desde que eles cá cheguem é na boa xD


De Suzzie a 2 de Janeiro de 2012 às 00:07
Omg gostei muito do capitulo *-*
Quero o próximo !!


De Andrusca ღ a 2 de Janeiro de 2012 às 13:19
Isto está lindo! *-*


De kaitlyn roode a 4 de Janeiro de 2012 às 15:33
woow, isto está incrível ! amei mesmo e até me vieram lágrimas aos olhos quando o ryan morreu :$


beijinhos e continua *


De Regina Oliveira a 11 de Março de 2012 às 00:30
- estou a gostar desta nova história ! bem vou ler os outros capítulos .


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